quinta-feira, 7 de março de 2013

[Resenha] O Menino do dedo verde

Autor: Maurice Druon
Editora: JOSÉ OLYMPIO
Páginas: 110

Menino do dedo verde? O nome nos leva a pensar, com muita facilidade, que o livro aqui discutido nesta resenha é mais um best seller ; daqueles com nomes bem exóticos criados puramente para despertar um interesse em “leitores-bisbilhoteiros”. Mas não! Relativamente não. Este livro infantil foi escrito por um autor gerado no mesmo ventre acadêmico que Saint-Exupéry e por isso (não só por isso, é claro) digno de prestígio e de leituras cada vez mais apaixonadas. Seu nome é Maurice Druon.

A leitura é fluida de forma exagerada, porque é simples e cumpre o papel que a literatura infantil deve cumprir: simplificar coisas profundas sem deixar de ter magnitude, revelar uma história que faça crianças correrem as páginas como se os olhos fossem a boca para uma fome que é a curiosidade e os adultos invejarem a infâncias de si mesmos se tivessem nas mãos este livro.

Sem muitas delongas, “O menino do dedo verde” questiona a guerra e seu significado para os homens da politicagem e para os homens que constroem armas; “hospedando-se” na perspectiva de uma criança que “não é como as outras”. Tistu, o dito cujo, é o filho do homem mais rico da cidade de Mirapólvora, o dono da fábrica de canhões que tem o maior espaço do mercado bélico mundial. Quando o Sr. Papai o matricula na escola, acaba por receber uma notícia desgostosa: Tistu não pode frequentar as aulas porque não é como os outros. Mas o problema que nasce aí como uma erva daninha, na verdade revela uma belíssima flor: Tistu não vai aprender as coisas do mundo por uma escola de pedra, mas sim, pela escola da vida: O Sr. Papai escolhe os melhores profissionais da cidade, para que ensinem seu filho o que não pôde aprender com um professor. Primeiramente e já em grande surpresa, o jardineiro de sua casa, Sr. Bigode, acidentalmente descobre que o menino tem o polegar verde, que faz germinar as sementes adormecidas das plantas, permitindo que cresçam de maneira monstruosa.

O Sr. Bigode afeiçoa-se a Tistu e os dois compartilham o segredo sobre o dedo verde (que não é da cor verde, e que só é chamado assim por que faz crescer a vegetação). Em seguida, com o senhor Trovões, diretor do presídio de Mirapólvora, conhecerá as leis dos homens. Tistu vai observar como as prisões são cinzentas e tristes; e vai tentar colorir tudo o que está atrás das grades com as cores da natureza. E ainda, com o doutor Milmales aprenderá que a saúde é uma dádiva muito frágil e que a doença é uma perdição insistente. Que os hospitais, por serem tão apáticos, tornam as pessoas cada vez mais pálidas e sem vontade de se recuperarem. E o mais importante, descobrirá que a sua diferença para com os outros é boa, milagrosa! Tistu vai descobrindo e sorvendo o mundo a partir da benevolência que pode gerar no coração dos homens: as flores trazem alegria e prosperidade para a vida alheia e por isso devem florir para todos. Sejam prisioneiros, gente da favela ou até mesmo animais do zoológico.

Mas quando a guerra chega á Mirapólvora, Tistu é o único capaz de discernir o que tem que ser feito. Lembremo-nos da famosa cena da flor que é colocada no cano de uma arma. As pétalas e pedúnculos podem exorcizar os males que as balas derramam? A vida que as bombas levam? Tistu nos ensina a guerrear com cores e aromas.

O menino do dedo verde faz germinar a flor inocente da nossa infância, que há muito tempo estava adormecida. Basta que ele nos toque com seu polegar.

Por Leandro Lourenço

3 comentários:

  1. Tistu! Lembro que ele era minha inspiração quando criança. Li e reli esse livro umas 3 vezes. Meu exemplar está todo despedaçado e feio, mas foi muito aproveitado :)

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    1. As vezes um exemplar despedaçado dá mais orgulho de ter!!
      Por mais triste que fique a aparência, é lindo saber que foi lido tantas vezes e ainda durou com a passagem do tempo hahaha

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