Editora: Rocco
Volume 1: O Guia de Campo - 114
páginas
Volume 2: A Pedra da Visão - 111
páginas
Volume 3: O Segredo de Lucinda -
114 páginas
Volume 4: A Árvore de Ferro - 125
páginas
Volume 5: A Ira de Mulgarath -
139 páginas
Alguns amores são difíceis de se
consumarem. Passam-se anos de flertes intermináveis e pensamentos
incontroláveis sobre o outro. Há momentos de desespero em que nenhuma limitação
pragmática é capaz de impedir que o desejo de ter, de possuir, de viver o tal
amor se consume. Assim, feito um aparente impossível amor à primeira vista, é
que me apaixonei pelas Crônicas de
Spiderwick. Não foi um sentimento fácil de conter, mas que esteve impedido
de se consumar pelas limitações, sobretudo financeiras da realidade. Então,
abraçando a única alternativa que me restava, resolvi amar, mesmo que fosse aos
poucos. Os cinco livros que compõem As
Crônicas de Spiderwick são pequenas joias e quase possuem o preço de
diamantes. Desprovido de dinheiro suficiente para comprá-los, caí em oração
para que algum dia a grande força sobrenatural que dita as regras das promoções
olhasse por mim e diminuísse os preços. Por sorte ou por milagre, encontrei os
dois primeiros volumes em uma promoção numa livraria dona de preços insólitos.
Mesmo sem perspectiva de comprar os outros volumes, comprei os dois primeiros.
Eram absurdamente lindos. Eu tinha até medo de abri-los. Todos os livros da
série são cheios de detalhes, cuidadosamente ilustrados, como obras primas de
um grande artista. Cheguei até a cogitar a possibilidade de aqueles livros
terem sido feitos artesanalmente e eram tão incríveis que não me surpreenderia
se isso fosse verdade. Somente algum tempo depois de eu ter lido os dois
primeiros é que uma bendita promoção trouxe os três volumes restantes até mim.
Finalmente, eu tinha os cinco volumes.
No início do primeiro livro, deparo-me com a proposta de Holly Black e Tony DiTerlizzi de que o universo do livro realmente seja verdade. Eles vendem a ideia de que uma ponta de suas histórias se conecte à realidade por meio de uma carta que eles teriam recebido depois de um dia de autógrafos. A carta, enviada pelos supostos irmãos Grace, representa, de alguma forma, um capítulo da história que segue. Um capítulo que, se pensarmos bem, encaixa-se em um momento posterior à história contada nos cinco volumes. Intrigante? Certamente, sim e uma exímia armadilha para capturar aqueles que ainda não estavam completamente convencidos de que aquela história seria incrível.
As Crônicas de Spiderwick são sobre as aventuras de um trio de
irmãos. Os gêmeos, Jared e Simon, e a irmã mais velha, Mallory. Como o próprio
Jared nos conta, seus irmãos têm interesses bastante definidos. Simon é um
amante de animais que gosta de todos os tipos deles e não liga se são
perigosos, asquerosos ou medonhos. Já Mallory é uma esgrimista. Ela sempre
participou do time da escola e é, no mínimo, talentosa. E Jared?! Jared talvez
fosse apenas um encrenqueiro. Um encrenqueiro que tem uma oportunidade de
recomeçar a vida em outra cidade. A história dos irmãos Grace começa exatamente
quando eles chegam a essa nova cidade e a sua nova e frustrante casa. Claro,
eles vieram de Nova Iorque, mudaram-se para o interior e seus pais se
divorciaram. O que poderia ser pior? Apesar de todas as predições de que aquele
recomeço seria sofrível, havia muitas coisas, provavelmente, interessantes em
meio a tantas calamidades. A maior e mais importante se refere ao casarão para que
se mudaram. Os Graces se tornaram os novos moradores da antiga propriedade de
Artur Spiderwick. Um casarão antigo que está no centro de uma miríade de
acontecimentos misterioso e mágicos.
Volume 1 |
No primeiro volume das crônicas, O Guia de Campo, os acontecimentos fantásticos
que perduram por toda a série são desencadeados quando os irmãos Grace
encontram um livro, o Guia de Campo de
Artur Spiderwick para o mundo fantástico ao nosso redor. Esse manual seria
uma espécie de guia de sobrevivência entre seres mágicos. Ele reúne informações
valiosas advindas de vários anos de pesquisa, observação e das experiências que
Artur teve com seres mágicos. As informações contidas no guia são das mais
variadas. Elas vão desde formas de identificar seres sobrenaturais a maneiras
de espantá-los e de se proteger de suas influências. É nesse sentido que se
insere uma premissa bastante interessante das Crônicas de Spiderwick: conhecimento é poder. Os seres mágicos
escondem-se por trás da descrença dos homens. Ninguém acredita que eles existem
e isso é o que os mantêm a salvo. Assim, um livro que contenha informações
detalhadas, esquemas, figuras e, sobretudo, provas de que eles existam seria
uma arma capaz de minar essa proteção. Além disso, o Guia de Campo, por
consistir de um compêndio que traz informações das diversas espécies de seres
mágicos, poderia ser usado como fonte de informação para que uma espécie possa
sobrepujar a outra. O guia seria então uma fonte de desequilíbrio para a ordem
natural das coisas. Motivados por essas duas perspectivas, uma horda de seres
mágicos busca tomar o guia dos irmãos Grace. E a incansável luta pelo guia de
campo começa nesse primeiro volume e aos poucos vai se tornando maior e mais
perigosa.
Volume 2 |
O segundo volume, A Pedra da Visão, traz um grande avanço
para a trama. É nele que vemos, pela primeira vez, vários elementos do enredo interagindo
com mais desenvoltura, como os irmãos Grace e os seres fantásticos, e uma amostra
da forma como magia e realidade vão se enlaçar para sustentar o enredo de toda
a série. Nesse volume, já de posse do Guia de Campo, Jared começa a compreender
melhor o mundo fantástico que Artur procurou descrever em seu livro. Ele acaba
completamente fascinado por aquele novo universo, como se até então tivesse
vivido pela metade. Por causa da descoberta do guia, os irmãos Grace conhecem
Tibério, um gnomo e uma espécie de guardião do guia, que lhes assegura o quão
perigosa pode se tornar a vida de alguém que tenha aquele livro sob seu poder.
Embora o aviso tenha sido convincente, não há como, depois de conhecer tudo aquilo,
fingir que aquele mundo fantástico não existe. Seria realmente impossível
porque, depois de eles terem encontrado o guia, tudo que é fantástico parece
estar vindo ao encontro deles. Simon acaba por ser sequestrado por um bando de
goblins invisíveis e uma aventura para resgatar o irmão começa. Para que essa
aventura tenha alguma possibilidade de ser bem sucedida, Jared começa a usar as
informações do guia combinadas aos conselhos de Tibério. É no A Pedra da Visão que os irmãos Grace
começam a experimentar verdadeiramente o mundo dos seres fantásticos.
Volume 3 |
Volume 4 |
Volume 5 |
Eu acredito que é nesse ponto, em
algum momento após os acontecimentos do último volume, que os irmãos Grace
tenham supostamente entrado em contato com DiTerlizzi e Black. Assim, a
premissa inicial do livro se encaixa perfeitamente como um elo que te leva
outra vez para o início da história. Um ciclo construído habilmente pelos
autores. Além de toda a gama de ideias que ampara a história, é preciso chamar
atenção para a simplicidade da escrita que foi pensada em perfeita harmonia com
lindas ilustrações. Os trechos pouco descritivos são preenchidos pelas
ilustrações que, por sua vez, apenas apresentam elementos que são destrinchados
pelo texto. Nesse sentido o livro acerta em cheio. Texto e ilustração se
completam em um equilíbrio impressionante, duas formas distintas de contar
histórias em confluência, feito um mosaico impressionante de desenhos e
palavras que são essenciais para a experiência de leitura.
As Crônicas de Spiderwick têm um charme especial que se percebe
desde sua primeira página. O modo peculiar como figuras comuns de histórias de
fantasia são tratadas evidencia o cuidado que os autores tiveram. Cuidado que
se reforça na forma natural como toda a história se desenrola. É impossível não
desejar ser parte daquele mundo fantástico. A força de Spiderwick é capaz de
falar diretamente à criança que um dia fomos, de resgatar nossas fantasias e
trazê-las para o nosso redor.
Por Fillipe Gontijo
"pequenas jóias" com certeza... ^^
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