sábado, 15 de novembro de 2014

Resenha: O Olho do Mundo

Série: A Roda do Tempo - Livro 1
Autor: Robert Jordan
Editora: Intrínseca
Páginas: 783 + Glossário
Ano: 2013 (originalmente publicado em 1990)

Atualmente é muito comum nos depararmos com diversas histórias fantásticas quando entramos em uma livraria qualquer. Com a popularidade crescente de sagas mais atuais, como Guerra dos Tronos, e também das veteranas, como O Senhor dos Anéis, por exemplo, o gênero se tornou ainda mais difundido. Já ouvi relatos de leitores que antes dividiam sua atenção entre distopias e romances voltarem seu olhar para as histórias de fantasia após conhecerem melhor o que o gênero tem a oferecer. A saga A Roda do Tempo, publicada no Brasil pela Intrínseca, não deixa a desejar nesse quesito, apresentando ao leitor uma jornada tão grandiosa que deixaria boquiaberto até o leitor mais crítico. Já aviso que a densidade da trama pode deixar a resenha um tanto cansativa ou incompreensível, mas darei meu melhor para explicá-la sem soltar muitas revelações do enredo ou da grande mitologia da saga.

Pra começar o entendimento dessa mitologia, é necessária uma importante introdução. No início havia o Criador, que construiu o universo e a Roda do Tempo. A Roda possui sete raios, cada um representando uma Era ou uma fase da história do mundo, que gira sob a influência do Poder Único (a ‘magia’ da saga), uma energia que flui da Fonte Verdadeira, composta pelas metades masculina e feminina (saidin e saidar). Os humanos capazes de usar desse poder são chamados canalizadores, e o principal grupo de canalizadores retratado no livro são os Aes Sedai, temidos por muitos e respeitados por poucos. O Criador, no momento da criação, aprisionou sua antítese, Shai’tan, o principal antagonista da história, em Shayol Ghul, uma montanha localizada em uma área amaldiçoada do mundo onde nenhuma alma deseja pisar.

Um experimento malsucedido dos Aes Sedai resultou na libertação de Shai’tan, que teve influência no mundo durante algum tempo, até o aparecimento de Lews Therin Telamon, o Dragão, que junto de seus Cem Companheiros, conseguiu aprisionar Shai’tan novamente. Contudo, no momento desse aprisionamento, Shai’tan amaldiçoou a metade masculina do Poder, saidin, fazendo com que Lews Therin, ao canalizar o Poder Único, enlouquecesse, causando a Ruptura do Mundo, uma série de terremotos e maremotos que modificou permanentemente a estrutura geográfica do mundo. Com isso, os homens ficaram impossibilitados de canalizar o Poder propriamente, ficando fadados à loucura e consequentemente à morte. Após esse acontecimento crucial, as Aes Sedai mulheres conseguiram reorganizar a sociedade novamente, mas sob o medo da profecia de que um dia Shai’tan quebre os selos de sua prisão e volte a encarar o Dragão.

Sabendo desse grande cenário, podemos dar continuidade à resenha propriamente dita. O primeiro volume da saga, O Olho do Mundo, nos apresenta os três principais personagens masculinos: Rand, Mat e Perrin, acompanhados das damas Egwene e Nynaeve. Como simples camponeses, eles vivem em Dois Rios, um pacato vilarejo no interior do mundo, que nunca ouviu falar em ameaças nos seus muitos anos de existência. Quando uma misteriosa mulher aparece em uma noite tradicional festiva, os rumores sobre um perigo iminente começam a circular. A mulher é Moiraine, uma Aes Sedai que, junto de seu Guardião Lan, traz um presságio nenhum pouco agradável. Os rumores não são os melhores: um mal que assombrou o mundo em eras passadas está prestes a escapar de sua prisão – visando vingar-se de quem o aprisionou.

Quando o vilarejo é atacado por estranhos seres antes tidos como existentes somente em lendas, os Trollocs (híbridos de homem e animal), Moiraine Sedai guia o inusitado quinteto para fora de Dois Rios. Ela percebe que o interesse de tais seres está centrado nos três garotos, uma vez que suas casas foram as únicas do vilarejo a serem destruídas completamente. Daí surge a trama central do primeiro livro: um dos garotos pode ser a reencarnação de Lews Therin Telamon, o Dragão, principal herói da Era das Lendas, responsável pelo aprisionamento de Shai’tan na montanha de Shayol Ghul. Sabendo disso, Moiraine procura levá-los até Tar Valon, a cidade-sede das Aes Sedai, visando a proteção de todos e o treinamento de Egwene e Nynaeve, que se descobrem capazes de canalizar o poder.

Esse início tão turbulento toma conta de menos das 100 primeiras páginas do livro, nos deixando mais 683 de puro mistério cercado de demonstrações do Poder Único por Moiraine e viagens a terras lendárias. O Olho do Mundo, que dá nome ao volume, é um desses lugares lendários: uma reserva de saidin que permaneceu intocado pela mácula de Shai’tan, que pode ajudá-los a encontrar respostas no caso de as profecias se tornarem verdadeiras. Ainda que ninguém saiba exatamente onde se encontra o Olho do Mundo, o grupo, que acaba por ficar maior com a passagem do tempo, sai em busca dele enquanto fogem da ameaça de Shai’tan. É interessante pensar no desenvolvimento das personagens, que, diferente do que acontece em outras sagas do gênero, se desenvolvem em frente aos nossos olhos, quase sem que a gente perceba. Cada um deles é dono de uma personalidade bem marcada, que só tem a acrescentar à trama central, seja nos diálogos, em suas ações ou ainda nos acontecimentos sobrenaturais aos quais todos estão expostos.

O Olho do Mundo é um livro pra quem gosta de histórias grandiosas, mas que começa e termina um ciclo dentro da trama principal da série. Acho importante ressaltar que, apesar da grande quantidade de páginas, em nenhum momento senti que a leitura se tornou cansativa. Os eventos e a complexidade de tudo fizeram com que eu me empolgasse demais e perdesse até o sono em algumas noites por ficar horas a fio lendo. Se você busca por esse tipo de livro, acredito que ele pode ter o mesmo efeito hipnótico sobre você. Muitas séries fantásticas têm esse efeito sobre os leitores, mas sou seguro em dizer que essa veio pra intensificar ainda mais o poder que a fantasia tem sobre nós, leitores. A Intrínseca planeja lançar no Brasil os 14 volumes da série, dos quais três já estão disponíveis para compra. Aproveite as promoções e não deixe de conferir a que pode ser sua nova saga favorita!

Observação:
- Você provavelmente pensou em como o início da saga se assemelha ao início de O Senhor dos Anéis, com um grupo de heróis escapando de seu lar rumo a muitos perigos. Não pensou errado. Robert Jordan deixou claro que ele intencionalmente assemelhou Dois Rios ao Condado dos hobbits, o que não quer dizer que as histórias sejam parecidas. O desenvolver da saga é completamente diferente do visto em SdA, mas vejo a referência como uma singela homenagem a Tolkien, assim como George Martin fez em Game of Thrones, nomeando alguns personagens da Muralha em referência aos pequenos.

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